Conheci o Sono na época em que eu arriscava uns grafites pelas ruas de São Paulo, isso em 2013, quando o mano lançava seus bombs pela gangue TWS (“Os Meia de Lã”, dai vem a sigla do seu vulgo). Tempos depois, o mano lançou sua primeira tape, chamada “TWS”, pelo selo BeatWise Records, daqui de São Paulo.
Hoje foi lançado seu quarto trabalho, intitulado “Street Talk”, mas dessa vez pelo próprio selo do produtor, chamado “Tired of People”, que era um sonho do cara, como ele explica:
“É a primeira do meu selo Tired Of People, algo que sempre sonhei e fiz tudo do jeito que eu queria, com a estética que eu queria, tudo nos mínimos detalhes. Chamei os amigos para colaborar e o mais legal de tudo isso, consegui pagar todos eles, fortalecendo também a arte/cultura independente e o corre de cada um.”
“Street Talk”, vem com a estética já muito particular do cara, retratando por meio de batidas de kick seco, samples dos anos 90, arranhos de disco e baterias que nos transportam a Golden Era do RAP, as noites pela cidade, os rolês de graffiti e a vivência pelas madrugadas do mundo. É uma trilha sonora perfeita para quem gosta da noite, das caminhadas, e dos jets. É também um resgate do estilo e da própria união da cultura Hip-Hop, como podemos observar pela capa da tape, criada pelo escritor de rua “OBOE”, referência em fotografia,tag, graffiti, ou seja, os elementos do Hip-Hop se fazendo presente dentro do trabalho do Sono.
A tape, composta por 19 faixas, foi produdiza nos samplers Emu Sp-12 Turbo, Akai S950 e Sp303, o que dá um tom ainda mais nostálgico.
As 14h começa a pré-venda da tape no BandCamp oficial do selo, onde serão vendidas 25 fitas no Brasil e mais 25 para o exterior. Então corre, garanta a sua e bote nos fones, pois o Sono é foda e, quem não conhece, vai se surpreender com a qualidade do trabalho do cara.
2016 foi um ano de realizações para o RAP. Tivemos uma série de lançamentos, descobertas, tretas saudáveis (ou não), quebras de paradigmas e, o melhor, muita música foda!
Foi um ano importante para a consolidação da cena que andava um tanto quanto parada, com fórmulas prontas e defasadas, com algumas poucas revelações.
E, ao meu ver, essa foi o principal ponto positivo para o movimento neste ano e, me baseando nisso, deixo abaixo a lista dos 5 melhores trampos do ano, em minha opinião.
BK – Castelos ¨& Ruínas
O BK já andava mostrando um bom trabalho desde 2015, com o Nectar Gang, grupo que despontou na cena do RAP carioca.
Em Março de 2016 o BK a.k.a Flow Zidane lançou seu álbum de estreia, intitulado “Castelos & Ruínas”. Com uma temática obscura, totalmente auto-biografico e bastante analítico sobre a vida do Mc, é uma espécie de crise existencial de forma de poesia. Bk trouxe uma roupagem nova pra cena, utilizando uma enorme quantidade de metáforas e referências que vão desde mitologia grega até banalidades da vida no Rio de Janeiro e suas vivências, amores, planos, decepções e conquistas. Tudo isso me impressionou muito, pois se assemelha a muitos grupos e Mc’s do underground nacional dos anos 2000, dando ula aula de lírica, conhecimento que está além do RAP, fazendo jus ao apelido de “Flow Zidane”; Destaque para a música “Não me espere”, que tem uma grande carga das inúmeras referências citadas acima.
Vale muito a pena conferir, porém, dificilmente vocês não ouviram falar desse álbum que, pra mim, levou o título de melhor trabalho do ano e que vocês podem ouvir aqui.
D.D.H – Direto do Hospício
Eu tive a honra de conhecer o D.D.H por uma amiga de Salvador, que havia me apresentado o som do BACO, antes do boom da faixa “Sulicidio”, que foi a grande responsável por uma das melhores coisas do ano, que foi a virada dos holofotes para o Nordeste.
D.D.H é uma dupla formada por Mobb e Baco Exu do Blues, e que nesse ano lançou o EP “Direto do Hospício”, compilando algumas faixas lançadas ao longo do ano.
É um EP dificil de digerir, visto a brutalidade e banalidade com a qual lidam com temas como a morte, violência, racismo, entre outros problemas que o povo pobre tanto sofre. Usando uma linguagem nas poesias de escarnio, muitas referências filosóficas e uma pitada grande de sarcasmo, o EP apavora nas produções, nas letras cheios de jabs na cara da sociedade e dos problemas sociais. Mas, depois de entender a linguagem e a intenção dos caras com suas letras, se torna uma obra prima para os ouvidos. D.D.H literalmente vem do hospício de Salvador para expor para todos a vida que passa em vão sob nossos olhos.
O grande destaque do EP é a faixa “Santíssima Trindade da Sujeira”, com participação do Beirando Teto, que é uma viagem psicodélica entre a espiritualidade, o álcool, a cena defasada do RAP, a desgraça do mundo e. claro, a cidade de todos os santos. Tudo com uma carga enorme de agressividade. Mas, para entender exatamente toda essa temática e esse universo paralelo do som dos caras, vocês PRECISAM ouvi-lo.
O rapper associado da TDE, que tem apenas 25 anos, lançou esse ano o álbum “The sun’s tirade”, um álbum resumidamente obscuro. Com batidas experimentais, e sempre muito boas, como em todos os seus trabalhos, o trabalho veio carregado de rimas sobre seus problemas psicológicos, vivências e problemas enfrentados pelo jovem Mc durante a vida. Tema esse que, infelizmente, tem sido recorrente, mas pelo lado positivo, sido exposto por quem o enfrenta. ´Problemas com o álcool e drogas seguem a trilha desse trabalho pesado, e muito lindo. É uma grande auto-reflexão do Isaiah sobre seus monstros internos.
Destaque para a faixa “Wat’s wrong” com participação do Kendrick Lamar, que trás uma reflexão sobre como corremos em círculos na vida, os pensamentos que nos limitam, o que queremos alcançar e os fracassos, ansiedade, preocupações, entre outras formas de limitação que todos nos enfrentamos, retratados nessa linda faixa.
Falar de J Dilla é falar de um membro do panteão de maiores produtores da história do RAP. James Yancey dispensa apresentações!
Porém, muitos o conhecem apenas como produto, ignorando o lado MC do lendário produtor de Detroit.
“The Diary” foi lançado em 2016, 10 anos após a morte do grande Dilla, e, diferente dos demais trabalhos póstumos, este foi especial pois além da produção das batidas, ele vem mostrando toda a habilidade como MC que possuia. Não só pela qualidade do trabalho e do Dilla, este álbum está na lista também pela felicidade que sinto em ver que o legado de Jay Dee será eterno, e a cada novo material lançado, ficamos felizes por ter a presença musical dele entre nós. Além do mais, este é o último material da série de trabalhos que Dilla havia deixado pronto antes de sua morte. O trabalho foi produzido entre 2001 e 2002, e conta com instrumentais de Dilla, Madlib, Pete Rock e vocais de Snoop Dogg, entre outros produtores e Mcs que fecham esse time de peso.
Destaque para a faixa “Fuck the police” onde Dilla mostra todo seu “amor” pelos “homens da lei”, hehehe. Vocês podem conferir o álbum aqui.
Makalister – A Terça Parte da Noite
Conheci o Makalister através da Déborah, também colaboradora do Rap Em Movimento.
Na época, ele havia acabado de lançar a “Laura Miller Mixtape”, em meados de Setembro desse ano. A mixtape, que alias eu diz um review aqui, dispensa comentários por toda sua qualidade. Depois de ouvi-la, fui atrás dos trabalhos anteriores do MC Catarinense, até chegar no EP “A Terça Parte da Noite”, lançado em Março de 2016.
Poesia é a palavra que resume o EP como um todo. Makalister usa de uma forma absurda e quase extraterrestre referências externas, que vão desde o cinema, sua marca registrada, aé livros, literatura, futebol, entre outras muitas formas de arte que o Mc absorve e fala com muita propriedade. Composta por 4 faixas, todas produzidas pelo próprio Maka, é uma viagem entre amores, rolês e vivências pela sua cidade, noites nos bares, filmes independentes e jogos do Figueirense. É daqueles trabalhos que você fica imerso na narrativa, sendo necessário, a cada verso, usar o buscador para entender e compreender as referências usadas, pois Makalister tem a capacidade de. em cada linha, usar uma quantidade enorme de metáforas ligadas a vários temas, o que torna o trabalho muito rico em questão de cultura e arte.
Destaque para a faixa “A vida e suas voltas redondas”, que é minha favorita por N motivos. Porém, acredito ser a faixa onde está mais explicito toda essa carga de referênxcia que eu reafirmo nessa analisa, como nos versos onde ele faz uma analogia genial entre futebol, sua infância e alguns filmes dos quais ele usou como tema.
Hoje, 21, o Bruno a.k.a NGMA lançou oficialmente seu primeiro single, “Licença pra chegar”, pelo selo Carranca Records. Lançamento esse que foi o último lançamento do ano.
“Licença pra chegar” é a introdução do NGMA no mundo do rap. É uma declaração de amor ao hip hop e ao rap, que muda e salva tantas vidas diariamente. Uma autêntica carta de apresentação ao game, NGMA mostra que não veio pra brincar.
Com referências desde Ab-Soul, até Rua de Baixo, passando por todo o supra sumo do RAP nacional e internacional, NGMA vem mostrando toda sua versatilidade, lírica e rimas carregadas de sentimento e vida.
Fiquem ligados na página do coletivo, pois em 2017 os caras vem com tudo!
No último domingo, 18, o Rap Em Movimento marcou presença na 2ª edição da Festa Punga, realizada no Estúdio Lâmina, no centro de São Paulo.
Nessa edição, o foco foi na discotecagem, com a presença dos DJ’s Mista Brown (Rashid), Marcel (Mob79), Vins (Blkkk), Família JBC (Jean, César e Barata), Beans ( Helibrown/Outroplanet) e Minizu ( Augusto Oliveira/SNTL Sounds).
Segundo Guilherme, nosso colunista do blog que que esteve presente no evento, “2016 foi um ano complicado em alguns aspectos. Ver pessoas que vivem a cultura Hip-Hop arrumando treta desnecessária foi ruim de aturar. Mas ir pro centro de SP, em um domingo a tarde e participar de uma festa igual a Punga foi foda, ver que ainda tem gente que cola em rolê pelo som que vai ouvir foi muito bom, SP precisa de mais festas como a Punga, onde o público bate palma ouvindo These Walls”.
Ontem, 11 de Dezembro, aconteceu a 17ª Feira de cultura de Santa Tereza, evento que ocorre todo ano na região de Embu das Artes, São Paulo.
E nessa edição o Rap Em Movimento foi prestigiar as apresentações do grupo ATTICA! e o MC NGMA, no palco principal da feira.
Foi um rolê totalmente voltado para a quebrada, aos moradores da região, e foi muito bacana acompanhar o som dos meninos, com mensagens fortes, sobre a vida, a truculência policial, a atual política nacional, o problemas dos pretos e dos pobres na sociedade, o que foi bem recebido por todos ali presentes.
Tanto o ATTICA! como o NGMA tem projetos para serem lançados no ano que vem, mas vocês podem acompanhar os sons já lançados dos caras aqui.
Abaixo vocês podem conferir algumas fotos da apresentação dos caras:
O ATTICA! é um grupo recente, residente na cidade de SP, com integrantes da Zona Sul e Norte da cidade, formado pelo Tiago Moti, Akhim e DJ Guto.
Os manos lançaram hoje seu primeiro single, chamado “Dark Samba”, que trás uma batida TRAP pesada, produzida pelo angolano pretochines e mixado pelo Mud, do coletivo Ho Mon Tchain.
O som saiu pelo selo Carranca Records, que também é novo na caminhada, mas com pessoas de qualidade, que vem trabalhando muito para lançar os trabalhos na rua de todos os MC’s e produtores associados.
O single tem uma levada de rua forte, relatando vivências, rolês e reflexões acerca do que cada um deles presenciam na cidade de São Paulo e sobre suas questões internas.
Hoje, dia 12 de novembro, é comemorado o dia mundial do Hip Hop!
O movimento começou nos anos 1970 nas áreas centrais de comunidades jamaicanas, latinas e afro-americanas da cidade de Nova Iorque. O Hip Hop engloba quatro elementos; Dj, Mc, break e grafitti. Afrika Bambaataa, reconhecido como o criador do movimento, estabeleceu esses quatro pilares essenciais na cultura hip hop.
De lá pra cá o Hip Hop atravessou continentes e fez escola pelo mundo. Hoje temos Mc’s de diversas nacionalidades e estilos. Campeonatos de Dj’s e de break e podemos observar o Grafitti cada vez mais presente em diversos países.
O hip hop se estabeleceu em diversas culturas e com o passar dos anos, e da própria evolução da música, o movimento foi se modernizando e se reinventado. O movimento nasceu marginalizado e culturalmente até hoje tem servido para incluir. Acredito que o maior trunfo e a maior mensagem do Hip Hop é a inclusão.
Hoje podemos ver Mc’s como a palestina Shadia Mansour, que usa a música para falar que no Oriente Médio também tem cultura e não é só Guerra. Os latinos Ana Tijoux, Bubaseta e Orixas que mostraram que na América Latina não existe só salsa. Nem vou falar do Brasil, porque né rsrsrs. Podemos ouvir rap em diversas línguas como em espanhol, em português, indiano e árabe. O Hip Hop é universal! O Hip Hop salva vidas!
Entre as batalhas da Santa Cruz e da Sexta Free, em São Paulo, nasce o coletivo A.L.M.A fundado em 2012 pelos MCs Felix e Jotace Rhazec. No início, o intuito era reunir pessoas que faziam rap com um discurso diferenciado que estudavam filosofias e que alinhavam entre si, além da vivência da rua. “Era mais uma parada pra trocar informação, pra falar sobre livro, pra falar sobre vida, sobre tudo e fazer rap”, explica Rômulo Boca, um dos integrantes do grupo Arma Lírica Musical da Alma, o A.L.M.A.
O coletivo reuniu diversas pessoas durante um período, mas com o passar do tempo, assim como diamantes brutos, o grupo foi se lapidando até chegar aos três pilares principais: Felix, Wendel e Rômulo Boca.
Em 2015 o grupo deu um grande passo na carreira e lançou o seu primeiro álbum “Da Alma ao Caos, Lama na Casa”. O CD foi gravado em exatamente um mês, mas foi construído ao decorrer do ano de 2013.
É possível sentir a emoção a flor da pele no trabalho ao todo, fãs um dos outros de forma declarada, o A.L.M.A despertou sentimentos diferentes tanto no público, quanto em si. “Cara, a gente precisa mais do CD do que o rap, sacou? A gente tinha muita coisa engasgada, muito descontentamento e muita coisa nossa mesmo, pessoal. Muita coisa que a gente lia, muita coisa que a gente vivia. O ano de 2013 foi um ano difícil pra caralho pros três e acho que não teve medo, sacou?”, conta o Rômulo.
Durante o processo de compor, receber os beats, unir às letras e gravar, Da Alma Caos, foi um CD sem medo, sem calma e segundo o Wendel, foi um processo desesperado e apesar de serem fiéis ao trabalho, faltou um pouco de calma “Saiu caótico. Era pra ser uma mixtape. Mas você sabe, nós somos jovens, queremos o mundo. E queremos agora. E, porra, eu amo esse disco. É a história da minha vida.”.
Entre coisas intensas e malucas na vida de cada um, a gravação não poderia ser diferente. A proposta do A.L.M.A era trazer isso à produção e eles conseguiram, além da alta expectativa de trazer algo de destaque para o rap e isso é perceptível. Você pode conferir agora, clique na capa do disco e ouça as 10 faixas.
São Paulo, noite fria e Batalha da Roosevelt, o Rap em Movimento entrevistou os integrantes do A.L.M.A , confira o papo abaixo:
Rap em Movimento – Como foi o retorno do público em relação ao CD?
Rômulo Boca – Ah cara, foi boa e foi ruim, né? A gente não foi muito bem aceito por certas pessoas, teve até gente falando que não tínhamos vivência nenhuma. “A vocês não têm vivência, vocês só falam de livro e de poesia e de fazer sexo com a mãe” , (risos) sei lá. A gente tem vivência pra caralho, cara. A gente tá sempre na rua, sacou?
E por outro lado foi super bem recebido por uma molecada que gosta de rap diferente, que faz rap diferente e que ouve rap diferente. Pelo menos dos grupos que a gente admira a crítica foi sempre positiva, tá ligado? Dos preto, dos branco, dos rico, dos pobre, dos que têm muito nome, dos que nem tem tanto nome. Isso aí, a galera recebeu bem. Mas acho que não dá pra agradar todo mundo, né? Então…
Wendel – A recepção foi muito boa. O trampo é bom. Alguns superestimaram muito, porque fomos megalomaníacos. Ai inspiramos isso. Outros sentiram vergonha de nos ouvir… porque fomos muito escrachados. Mas no geral, eu acho mesmo que o público nos colocou numa estante. Não curto isso, porque não gosto de ser esquecido dessa forma.
Rap em Movimento – Olhando para trás e analisando o início do grupo e comparando com agora, o que mais mudou ? O que mais cresceu em vocês?
Rômulo Boca – Cara, hoje em dia a gente é mais alinhado e mais profissional também… Somos mais centrados, mais entrosados… Porque os três que estão no grupo atualmente, estão com uma vontade de levar a parada pra frente, sacou? Fazer um som diferente, ganhar grana com o rap, fazer show, conhecer outros artistas, dar uma nova cara pra parada… Trazer uma perspectiva nova.
Coisa que não existia na época do coletivo. Na época do coletivo (apesar de ter o nome coletivo) era uma fita muito individual. Cada cara desejava uma coisa, queria levar a parada pra um canto e eu acho que hoje em dia os três, apesar de bem diferentes, nós enxergamos a mesma rota, sacou? Na época do coletivo rolava muito atrito entre os integrantes. O Felix, eu e o Wendel a gente quase nunca briga… A gente até briga, mas é muito raro. Eu acho que a parada é mais harmoniosa. Bem mais harmonioso do que era antes.
Rap em Movimento – E de forma pessoal, o que mais cresceu em vocês?
Felix – E agora? Acho que nada (risos). Brincadeira. Pô, acho que principalmente o crescimento profissional.
Rômulo – Ah, é…Dinheiro, a ser responsável com o horário, show. Acho que essa parte do profissional ,a gente amadureceu muito.
Felix – Pra caramba, principalmente na parte da visão. Acho que antes do A.L.M.A a gente tinha uma certa visão do que era o cenário, do que queríamos , das ambições de cada um… Mas de certa forma era meio limitado e quando juntamos ali o time do A.L.M.A começaram a rolar as divisões e cada um alimentando um pouco da visão do outro, um aprendendo um pouco com outro… De certa forma eu comecei a expandir um pouco mais o meu universo e a minha noção de mundo.
Tipo, saber até onde eu posso chegar. Acho que tudo isso eu devo pro A.L.M.A, porque antes disso eu trabalhava só e eu não tinha muitas ambições, pelo menos. Era uma pessoa bem difícil de lidar e trabalhar em grupo, trabalhar com o time, principalmente com os moleques do A.L.MA. Me ajudaram a amenizar esse meu lado mais agressivo.
Wendel – Simplicidade foi o que mais cresceu em mim. Hoje eu quero ser mais simples, e muito mais preciso no que faço. Se eu conseguir ser simples e ter paciência posso criar coisas melhores. Eu vi isso.
Rômulo – Através do A.L.M.A eu conheci muita gente, sacou? Eu noto que as pessoas se sentem mais a vontade pra falar com a gente sobre certas coisas, porque nós damos mais margem pras pessoas falarem de certos assuntos que são desagradáveis de serem falados no rap até hoje, isso me amadureceu muito, sacou? Essa vivência, me tornou um cara mais calmo, um cara que aceita melhor as diferenças, as diversidade das pessoas.
E eu, o Felix e o Wendel a gente sempre tá se ensinando, eu tô sempre aprendendo coisas com eles, sempre ensinando pra eles coisas novas. Eu acho que como pessoa, o A.L.M.A me ensinou a ser um cara mais transparente, um cara mais flexível muito mais flexível.
Me deu esse up, me deu mais feeling pra saber lidar com certos tipos de situações que antes eu não sabia lidar, isso tudo foi através do A.L.M.A, tá ligado? Aprendi a ter mais coração, mais paciência com as pessoas, acho que foi isso.
Rap em Movimento – Vocês sentem que falta algo no grupo?
Felix – Só dinheiro, mano (risos).Não sei… É um grupo, né? Três seres humanos, sempre falta alguma coisa, sempre falta complementar alguma coisa ali e aqui, tanto no espírito quanto na parte artística de cada um. Mas neste exato momento, eu sinto que o time tá bem encaixado, sabe? Que se faltar é por aprendizado mesmo. É dar tempo ao tempo, sabe? Acho que a própria estrada da vida vai complementar isso que falta.
Wendel – Não sei. Talvez sim.
Rômulo – Acho que falta mais de fora do que de dentro, acho que falta mais as pessoas entenderem melhor o A.L.M.A do que nós nos entendermos mais. A gente se dá muito bem, hoje eu consigo entender muito bem os meninos, saca? De um jeito até eu achei que não iria conseguir entender e consigo enxergar as razões deles em tudo que vão fazer e eu noto que isso é recíproco.
A galera nos julga errado muitas vezes, muita falação em volta da gente, muita coisa que a gente nem quer que seja falado, que nem é o nosso intuito. Muita interpretação errônea.
Acho que falta mesmo é dinheiro (risos). E falta, lógico, algumas realizações pessoais que todos os três querem ter com o A.L.M.A. Mas isso são coisas que estamos construindo com o decorrer do tempo e que vão ocorrer no momento certo, acho que só.
Rap em Movimento – Quais são os planos de vocês daqui para frente?
Rômulo – Cara, matar o Bolsonaro, dominar o mundo, ir pra cama com a Rihanna.
Felix – Com a Beyoncé e com a Minaj.
Rômulo – Com a Beyoncé não, porque ela é a mulher do chefe, né? Não dá (risos), tem que respeitar a hierarquia. Mas é basicamente isso aí. Não, brincadeira (risos). Cara, acho que os nossos planos são iguais com os de outros grupos de rap… Expandir, fazer coisas novas, fazer coisas legais às pessoas, sacou?
Wendel – Temos metade de um disco pronto, mas a galera só pode esperar os feats e um provável clipe que esta pra sair, não é certeza. Por enquanto só isso.
Rap em Movimento – Em 2016 o A.L.M.A trabalhou mais com singles e diminuiu um pouco em relação ao ritmo de trabalho de 2015. Queria que vocês falassem um pouco destes singles e por que não lançaram tantas coisas esse ano?
Rômulo – Em 2016, o A.L.M.A realmente trabalhou com menos lançamentos, menos shows e etc., porque aconteceram muitas coisas pessoais na vida de nós três que impediram a gente de trabalhar mais rápido ou com a mesma máquina de trabalho do ano passado. O Wendel se mudou para São Sebastião, fora de São Paulo, eu tive alguns problema de saúde envolvendo a minha família e o Felix começou a se envolver com outros trabalhos, além da música, ele começou a criar roteiros e dirigir videoclipes e tal.
Mas este ano também foram feitas algumas coisas, no começo do ano lancei um single com o Pizzolque se chama “Assunto Terra”, foi lançado no comecinho do ano.
Depois a gente lançou um single chamado F.O.B e com produção do Wendel. O single gerou uma polêmica, porque houve ataques a uns partidos políticos e citou uma página de grande veiculação no Brasil em relação ao rap, mas enfim.
Depois a gente soltou um som com o UZI, chamado “Provocações” que tem produção do Neto, o Síntese, os meninos do UZI tinham chamado a gente pra fazer esse som e a gente soltou.
O Wendel soltou Benjamin que é do single do EP dele, trabalho que vem desenvolvendo nos últimos tempos. Já faz um tempo que ele queria soltar uma parada nova solo e soltou o single.
Foram estas produções que o A.L.M.A focou em 2016 e a gente não fez muitos shows, fizemos uma média de 3 a 4 shows no ano, exatamente, por essa ausência do Wendel em São Paulo e também por outras coisas que foram acontecendo no decorrer desse período, fizeram que a gente não conseguisse trabalhar da mesma forma que trabalhamos ano passado (tanto com os lançamentos, quanto com os shows). Mas esses singles conseguiram deixar a gente vivo, conseguiram manter uma relevância da gente na cena.
Em 2017 a gente quer mudar isso, quer voltar a trabalhar mais rápido, a lançar mais coisas, fazer mais shows e etc.
Rap em Movimento – O que as pessoas podem esperar agora?
Rômulo – Então, é exatamente isso que a gente não quer… Que as pessoas esperem algo da gente, a gente quer que as pessoas se surpreendam, tá ligado? A gente não quer esse lance de “Espero que A.L.M.A faça isso”, mano a gente quer que vocês deixem a gente fazer nossa arte e se surpreendam.
Queremos expandir, ganhar dinheiro, ganhar público, se relacionar com outros caras que trabalham com o rap. Além da gente fazer rap, a gente é muito fã e ouve rap. É o lance mesmo da expansão, a gente tá no meio do processo de um CD novo,esperamos que saia uma coisa visionária, mas não é esse visionário clichê, sacou?
Que é o visionário do cara genérico que faz uma coisa e acha que é visionário e fazendo uma coisa que todo mundo já fez. A gente quer fazer uma parada legal mesmo, que as pessoas escutem e falem “pô, nunca ouvido isso”, “nunca tinha pensado que isso se encaixaria no rap”, sacou?
Felix – O visionário do A.L.M.A é mais no sentido de vanguarda, né? A gente é mais vanguardista do que o visionário que todo mundo usa hoje em dia. A palavra acabou virando clichê e acho que, só pra complementar o que o Rômulo falou, o que a gente espera do A.L.M.A e o que as outras pessoas podem esperar é algo bem mais autônomo daqui pra frente. A gente tá trabalhando bem nos alicerces de cada área pra girar legal na cena, pra ser bem mais autônomo daqui pra frente.
Rômulo – Mas a gente nunca sabe como será a recepção das pessoas, tem muitas coisas que a gente faz e que o rap não tá preparado ainda, sabe? O futuro ao diabo pertence, tá ligado? Então vai saber…
Rap em Movimento – O que vocês estão escutando no momento?
Felix – Pô um monte de coisa..
Rômulo – Bom, eu vim pra cá ouvindo Fagner
Felix– Fagner? Eu preciso começar a ouvir Fagner.
Wendel – Eu tenho escutado bastante o Raffa Moreira.
Rômulo – Cara a gente sempre tá ouvindo um monte de coisa, mas uma coisa que tem que falar pra todas as pessoas e que a gente tá ouvindo muito: rap Coreano. Escutem rap coreano, dá o papo Felix…
Rômulo – Enfim, de verdade estamos ouvindo muito rap coreano, cara. Mas, assim, nós sempre estamos ouvindo muito coisas. Eu voltei a ouvir muito MPB, sacou? Sei lá, tem época que tô meio ressentidão com o rap e até em ouvir rap eu me sinto um pouco mal… Aí eu saio um pouco e MPB lembra muito meu pai, então eu gosto de ouvir. E porque é bonito pra caralho. Ah, Rock a gente tá ouvindo também.
Rômulo –É muita coisa, cara. Ah, e tô ouvindo muito o Maka, né? O Maka lançou a mixtape e tô ouvindo muito. Não sei se isso vai sair na entrevista… Maka eu não sei se você vai ler isso, mas eu queria dizer que a sua mixtape tá sensacional e que eu amo muito você, muito mesmo, mano. Tá sensacional essa última mixtape dele, cara.
Felix- Ele vai ver esta entrevista? Aí Maka, solta nosso som, viado (risos).
Rap em Movimento- E o que vocês recomendam de som?
Rômulo e Felix – Todos da INC, velho! Victor Xamã, Eloy Polemico, Aruan, Surgem, Bárbara Bivolt, Makalister, Qua$imorto inteiro, Morlockz, o Sérgio, o Estranho, o Dro, o Thales, o Plínio. Cara, um integrante da INC – A Inominável Nuvem Coletiva – agrada pelo menos o seu rapper favorito no Brasil, a verdade é essa. Então se você ouve DonCesão, Don L, Racionais, Costa Gold, Emicida… Pelo menos um desses caras ouve um cara da INC e se inspira nele.
Rômulo – Agora, fora da INC tem vários caras também… Tem o Froid que é um cara fantástico, tem os meninos do PrimeiraMente que são incríveis, tem o Rico Dalasam, tem o Raffa Moreira que é um cara foda, tem o ZRM…Tem o Augusto Oliveira, o Kafé… o Kafé é o nosso TheWeeknd… Tem centenas de pessoas pra se ouvir no rap, a gente pode fazer milhares de indicações. Espero que todos os nomes ela ponha na entrevista, porque são todos extremamente talentosos.
Nota extra: Acredito que citei todos que disseram, meninos.
Rap em Movimento – Pra terminar, uma mensagem livre pra quem for ler a entrevista. Para abrir o coração (risos).
Rômulo – Puta, cara… Não sejam reaças! Leiam bastante, amem bastante, aceitem a animalidade de vocês… Entendam que a humanidade é isso aí memo que a gente tá vivendo. Não aceitem a atual situação do país. Não sei o que eu posso falar, é muito coisa pra falar…
Felix– Aproveita , a mensagem é livre e ai você pode descarregar a vida…
Rômulo – É muita coisa pra falar… sejam livres nas artes de vocês… Tenham respeito pelos pretos, pelas mulheres e sejam viscerais na porra da arte de vocês que é tudo que nos resta, tá ligado? Tipo, escrevam sem medo, escrevam de coração, sejam sujos, sejam viscerais, surpreendam as pessoas. Mas mesmo dentro disso tudo tentem respeitar a história dos pretos, das mulheres , dos pobres, do Brasil, dos indígenas e façam a arte com o coração e é isso aí. Bebam bastante, fumem bastante, transem bastante e não perrequem a vida alheia.
Felix –Ah mano, o Rômulo já falou tudo (risos), em sumo é isso, mano… Se você quer fazer arte, principalmente no rap, busque o máximo de conhecimento possível, invista o máximo em autonomia, seja forte nos campos que você conseguir e faça parcerias inteligentes… Faça com o coração, a primeira pessoa a acreditar no seu bagulho tem que ser você. Se você não acredita, muda de profissão, vai escolher outra fita pra fazer… Vai ficar atrás da mesa de uma ADM, mas nada contra quem curte fazer isso , tá ligado?
Mas é que até que se prove ao contrário, é o seguinte.. A gente só tem essa vida pra conseguir os nossos bagulhos, então se você não acredita o suficiente, se você não parte pra cima, ninguém mais vai partir para você.
O primeiro passo antes de buscar conhecimento, autonomia e as parcerias é você memo, acreditar no seu bagulho. Se você não acredita nem sai da sua cama, fica lá.. Que daí você não atrapalha quem acredita.
A música brasileira é rica, isso é incontestável. Vários gêneros se fazem presente em nossa história, mas um deles se tornou especial: A MPB.
O termo surgiu na década de 60, associado à interpretação feita por Elis Regina da canção Arrastão, de Vinicius de Moraes e Edu Lobo.Muitos elementos são associados a MPB, em especial o Soul, Funk e Bossa-Nova.
O RAP surgiu no Brasil na década de 80, onde a maior referência no país eram os grupos surgidos em Nova Iorque, e em outras cidades americanas, um dos berços do ritmo. Na época, com a novidade em nosso país, claro, as referências que tinhamos de produção de letras e batidas eram todas dos EUA.
Com o tempo, nosso RAP foi tomando maturidade, criando seu próprio estilo, e bebendo da nossa MPB para criação de batida, utilizando samples de músicas nacionais. Destaque para Racionais MCs e alguns outros grupos da época que passaram a utilizar essa nova sonoridade em suas músicas, dando uma cara brasileira para nosso RAP.
Porém, nos anos 2000 cresceu um movimento contrário, onde produtores renomados da escola americana, principalmente do underground, se viraram para nossa qualidade sonora, com destaque para a MPB dos anos 70, e demais décadas.
Artistas como Madlib, J Dilla, MFDoom, J Cole, Joey Bada$$, Knxwledge, entre muitos outros que, ao longo desses últimos 20 anos vem valorizando o que há de melhor em nossa MPB.
Abaixo vocês podem conferir um compilado de algumas músicas que utilizam samples, recortes e fazem referência e homenagem a nossa música:
J. Cole – God’s Gift / Milton Nascimento – Francisco
https://www.youtube.com/watch?v=ot0cfLa5vfg
Madvillain – Rhinestone Cowboy / Maria Bethânia – Mariana, Mariana
https://www.youtube.com/watch?v=q-526cbq8z8
Knxwledge – Theyfeelit / Claudia – Deixa eu dizer
https://www.youtube.com/watch?v=sUFOF7GCfSg
Joey Bada$$ – Alowha [Prod. By Kirk Knight] / Marcos Valle – Previsão Do Tempo
https://www.youtube.com/watch?v=3ahg7Fr2aMc
Madvillain – Raid / Osmar Milito e Quarteto Forma – América Latina
Nujabes – The Space Between Two World / Toninho Horta – Waiting For Angela
The Pharcyde – Runnin [Prod. J Dilla] / Stan Getz – Saudade Vem Correndo
A.G. – Yeah Nigga / Trio Mocotó – Não Adianta
Madvillain – Supervillain Theme / O Terço – Adormeceu
https://www.youtube.com/watch?v=aRiLeyjsrdc
Huss und hodn – Reichwerfen / Chico Buarque – Ligia
J Dilla – Brazilian Groove / Ponta De Areia – Earth, Wind, & Fir
https://www.youtube.com/watch?v=JGW2SAOGmHUe
MF Doom – Absolutely / Ponta De Areia – Earth, Wind, & Fire
Madlib Medicine Show No. 2 – Flight to Brazil / Brazil by Music – Brazil by Cruzeiro (1972) / Eduardo Araujo & Silvinha - Opanige (Este trabalho, em especial, é uma coletânea de músicas brasileiras. Vale a pena procurar todos eles.https://www.youtube.com/watch?v=T5vQ1G1bPdc
Madlib – Speto de Rua / Este foi um trabalho gravado em uma viagem do produtor, em 2002, pelo Nordeste Brasileiro. Não está disponível no youtube, mas no link abaixo tem mais informações sobre o trabalho, bem como ele pode ser adquirido.
Enfim, são muitos os músicas gringos que na música brasileira encontram inspiração para suas criações. Esses foram alguns exemplos e amostras, porém, o catálogo é enorme.
Espero que curtam, e vamos valorizar nossa música, que tem uma riqueza e importância enorme.
Sábado à noite, 20 de agosto, São Paulo estava entregue à chuva e ao frio, mas apesar do clima, a good vibes estava no ar!
No último final de semana, o Rap em Movimento foi conferir o primeiro dia da apresentação épica do grupo de rap Ordem Natural, no CCSP – Centro Cultural São Paulo -, com convidados mais que especiais: Elo da Corrente, Síntese, Espião e Black Alien.
O show rolou no auditório “Adoniran Barbosa”, apesar das cadeiras dispostas na sala, o público queria mesmo era ficar perto, curtir o som e gravar cada detalhe daquela noite.
“… Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge, para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem. Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem. Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam e nem mesmo pensamento eles possam ter para me fazerem mal…” foi com esse astral que o Ordem Natural abriu os caminhos no sábado, ao lado da banda.
Entre sons do novo trabalho, o grupo também cantou sucessos do Quinto Andar. Elo da Corrente e Síntese abrilhantaram a noite. Fãs de várias idades, com as letras na ponta na língua, a interação entre os grupos e o público era indiscutível.
De forma leve e interativa, a plateia foi gritando os pedidos e não é que os caras atenderam? Tudo foi realmente especial, a sinergia era mútua.
Sem mais delongas, veja alguns registros feitos pelo fotógrafo do Rap em Movimento, Marco Aurelio, da 1º noite de apresentação do Ordem Natural e convidados:
Confira o álbum completo em nossa página do facebook!