Uma das coisas que mais me chama atenção nas obras que mais gosto da nona arte, é a forma como as histórias e os personagens, que muitas vezes podem soar não muito convencionais em outros meios, como cinema, livros, séries… Conseguem ter uma narrativa tão rica e cheia de possibilidades.
Muitas ótimas HQ’s tem personagens que parecem ser um tanto fora de contexto dentro do universo em que se passa a história, mas que casam com maestria com o decorrer da mesma. Exemplos disso são:
Obviamente existem muitos outros personagens com essa características em muitas outras HQ’s, mas a questão aqui é que existe um rapper tupiniquim que consegue fazer esse tipo de coisa de forma magistral em suas músicas, o cronista da cidade cinza Rodrigo OGI.
O vovô OGI já disse mais uma vez em entrevistas que é um grande fã da nona arte, consequentemente a sua obra seria influenciada por isso, abaixo listo algumas (não todas) músicas dele com esse perfil que constroem sua “Gotham Sampa”, com personagens ou situações caricatas.
1 – Zé Medalha
Zé Medalha é um ótimo nome para uma história roteirizada por Garth Ennis, Mark Millar ou Brian Azarello, seja próprio ou mesmo um apelido para um chefe de gangue.
Na música ouvimos a narração de uma luta entre Rodrigo OGI e Zé Medalha, de uma forma onde o cronista cita os objetos usados na treta, e as referências para mostrar como ocorreu a luta.
Me faz lembrar de uma briga na história “Y – The Last Man”, onde a vilã Toyota narra cada movimento feito por ela e de sua oponente na briga, sempre falando dos movimentos, armas e brincando com referências japonesas para dizer que é melhor no mano a mano contra uma americana.
2 – Minha Sorte Mudou | 3 – Ponto Final
Em Minha Sorte Mudou e Ponto Final fiquei lembrando das HQs do Will Eisner, que mostrava de forma muito bem detalhada como era a vida dos lugares que se passavam suas histórias. Você pode observar um bairro comum de periferia ouvindo essa música, da mesma forma que pode ver de forma palpável como era a vida nas periferias de Nova York lendo “Um Contrato com Deus”.
4 – Escalada
Em Escalada, o que me chamou a atenção foi como OGI mostra a imagem com palavras de como é o personagem central da música:
José Carlos magricelo, tinha um terno amarelo
Dirigia uma Belina cor de caramelo carabina
Seu aspecto era de um hemofílico, crônico
Um cara um tanto quanto “fora dos padrões”, a não ser que seja comum o corretor imobiliário ter esse perfil.
A forma que o abismo é narrada na música me faz lembrar a HQ da Vertigo, A Casa do Fim do Mundo, onde ao olhar para baixo, o personagem pode ser surpreendido a qualquer momento por um monstro criado por ele mesmo.
5 – Trilogia Trindade
Em Trindade (que é dividida em três partes), Rodrigo OGI mais parece um personagem central de algum conto de Sin City, de rolê na cidade fria e falando dos perigos da noite na metrópole.
Ele consegue deixar nas três partes juntas bem palpável a ideia de como a cidade consegue ser densa, fria, colorida, alegre e doida ao mesmo tempo, bem como nas páginas da HQ de Frank Miller.
Destaque para a comparação do barman e do policial Delfin. Na parte três, é genial a forma como ele descreve o devaneio do personagem chegando em casa e se “conectando ao mundo das crianças”, (bem como Dwight McCarty fazendo analogia ao monstro em A Dama Fatal), e logo em seguida indo “lutar” ao estilo Street Fighter para pegar uma mina.