HQ’s cantadas de Rodrigo OGI

Uma das coisas que mais me chama atenção nas obras que mais gosto da nona arte, é a forma como as histórias e os personagens, que muitas vezes podem soar não muito convencionais em outros meios, como cinema, livros, séries… Conseguem ter uma narrativa tão rica e cheia de possibilidades.

Muitas ótimas HQ’s tem personagens que parecem ser um tanto fora de contexto dentro do universo em que se passa a história, mas que casam com maestria com o decorrer da mesma. Exemplos disso são:

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Ezekiel em The Walking Dead, o líder de um lugar chamado “O Reino”, com um tigre como animal de estimação. Na mesma história vemos um homem que é chamado de Jesus e luta kung fu.
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Cassidy de Preacher, um personagem que parece ser um homem comum em um universo comum se revela sem qualquer aviso prévio ser um vampiro. Na mesma história temos um adolescente com a cara deformada, que é chamado de “Cara de Cú”.
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Sangrecco da brasileira Mesmo Delivery, um homem que trabalha em uma “empresa de transportes” para o diabo e faz cover do Elvis, não aparenta, mas é melhor na faca do que o Peter Coyote brasileiro.

Obviamente existem muitos outros personagens com essa características em muitas outras HQ’s, mas a questão aqui é que existe um rapper tupiniquim que consegue fazer esse tipo de coisa de forma magistral em suas músicas, o cronista da cidade cinza Rodrigo OGI.

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OGI procurando umas HQ’s no sebo, no programa Estamos Vivos com KL Jay, clique aqui para assistir o programa, mas termina de ler o texto antes.

O vovô OGI já disse mais uma vez em entrevistas que é um grande fã da nona arte, consequentemente a sua obra seria influenciada por isso, abaixo listo algumas (não todas) músicas dele com esse perfil que constroem sua “Gotham Sampa”, com personagens ou situações caricatas.

1 – Zé Medalha

Zé Medalha é um ótimo nome para uma história roteirizada por Garth Ennis, Mark Millar ou Brian Azarello, seja próprio ou mesmo um apelido para um chefe de gangue.

Na música ouvimos a narração de uma luta entre Rodrigo OGI e Zé Medalha, de uma forma onde o cronista cita os objetos usados na treta, e as referências para mostrar como ocorreu a luta.

Me faz lembrar de uma briga na história “Y – The Last Man”, onde a vilã Toyota narra cada movimento feito por ela e de sua oponente na briga, sempre falando dos movimentos, armas e brincando com referências japonesas para dizer que é melhor no mano a mano contra uma americana.

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Y – The Last Man | Volume 8 – Dragões de Kimono

2 – Minha Sorte Mudou  | 3 – Ponto Final

Em Minha Sorte Mudou e Ponto Final fiquei lembrando das HQs do Will Eisner, que mostrava de forma muito bem detalhada como era a vida dos lugares que se passavam suas histórias. Você pode observar um bairro comum de periferia ouvindo essa música, da mesma forma que pode ver de forma palpável como era a vida nas periferias de Nova York lendo “Um Contrato com Deus”.

4 – Escalada

Em Escalada, o que me chamou a atenção foi como OGI mostra a imagem com palavras de como é o personagem central da música:

José Carlos magricelo, tinha um terno amarelo
Dirigia uma Belina cor de caramelo carabina
Seu aspecto era de um hemofílico, crônico

Um cara um tanto quanto “fora dos padrões”, a não ser que seja comum o corretor imobiliário ter esse perfil.

A forma que o abismo é narrada na música me faz lembrar a HQ da Vertigo, A Casa do Fim do Mundo, onde ao olhar para baixo, o personagem pode ser surpreendido a qualquer momento por um monstro criado por ele mesmo.

5 – Trilogia Trindade

Em Trindade (que é dividida em três partes), Rodrigo OGI mais parece um personagem central de algum conto de Sin City, de rolê na cidade fria e falando dos perigos da noite na metrópole.

Ele consegue deixar nas três partes juntas bem palpável a ideia de como a cidade consegue ser densa, fria, colorida, alegre e doida ao mesmo tempo, bem como nas páginas da HQ de Frank Miller.

Destaque para a comparação do barman e do policial Delfin. Na parte três, é genial a forma como ele descreve o devaneio do personagem chegando em casa e se “conectando ao mundo das crianças”, (bem como Dwight McCarty fazendo analogia ao monstro em A Dama Fatal), e logo em seguida indo “lutar” ao estilo Street Fighter para pegar uma mina.