ATTICA! e NGMA na 17ª Feira de cultura de Santa Tereza.

Ontem, 11 de Dezembro, aconteceu a 17ª Feira de cultura de Santa Tereza, evento que ocorre todo ano na região de Embu das Artes, São Paulo.

E nessa edição o Rap Em Movimento foi prestigiar as apresentações do grupo ATTICA! e o MC NGMA, no palco principal da feira.

Foi um rolê totalmente voltado para a quebrada, aos moradores da região, e foi muito bacana acompanhar o som dos meninos, com mensagens fortes, sobre a vida, a truculência policial, a atual política nacional, o problemas dos pretos e dos pobres na sociedade, o que foi bem recebido por todos ali presentes.

Tanto o ATTICA! como o NGMA tem projetos para serem lançados no ano que vem, mas vocês podem acompanhar os sons já lançados dos caras aqui.

 

Abaixo vocês podem conferir algumas fotos da apresentação dos caras:

 

O grupo ATTICA! lançou seu primeiro single “Dark Samba”.

O ATTICA! é um grupo recente, residente na cidade de SP, com integrantes da Zona Sul e Norte da cidade, formado pelo Tiago Moti, Akhim e DJ Guto.

Os manos lançaram hoje seu primeiro single, chamado “Dark Samba”, que trás uma batida TRAP pesada, produzida pelo angolano pretochines e mixado pelo Mud, do coletivo Ho Mon Tchain.

O som saiu pelo selo Carranca Records, que também é novo na caminhada, mas com pessoas de qualidade, que vem trabalhando muito para lançar os trabalhos na rua de todos os MC’s e produtores associados.

O single tem uma levada de rua forte, relatando vivências, rolês e reflexões acerca do que cada um deles presenciam na cidade de São Paulo e sobre suas questões internas.

Vocês podem conferir o som aqui.

A história por trás da capa do álbum “Madvillainy”(2004), pelo Diretor de Arte Jeff Jank.

[Matéria originalmente publicada no site egotrip, que vocês podem conferir aqui

O antigo diretor de arte da Stones Throw Records, Jank – por meio de sua maravilhosa arte de capas e discos e singles, como as de Madlib (e sua miríade de encarnações, incluindo Quasimoto e Yesterday’s New Quintet), J Dilla , Dudley Perkins – exibiu tanto talento para criatividade em homenagem ao design vintage. Estimulado por uma fotografia impressionante feita pelo fotógrafo Eric Coleman, o design da capa do álbum de Jeff para Madlib MF Doom – collab inaugural do clássico de Madvillain Madvillany, é um exemplo fundamental de algo que preenche realmente muito bem ambas as categorias. Nós recentemente nos encontramos com o homem conhecido alternadamente como Funkaho para discutir a realização do LP e sua capa- um processo que envolveu troca, bongs, um abrigo anti-bombas e oportunidades para talvez assustar as crianças

 

madvillian_cover

Qual foi a inspiração original para a capa do álbum Madvillainy e como evoluiu o conceito?

Jeff Jank: Naquela época, em 2003, Doom realmente não tinha uma imagem pública. Cabeças do hip-hop sabiam que ele usava uma máscara, que ele fez parte do KMD – Kausing Much Damage, um grupo de RAP criado em 1988, mas ele realmente era um mistério. Então, eu realmente queria ter uma foto dele na capa, só para fazer uma imagem definitiva do Doom. Especificamente eu estava pensando em uma foto desse homem, que por acaso usava uma máscara por algum motivo, ao contrário de “uma foto de uma máscara”. Eu não sei se a distinção ocorreria a qualquer outra pessoa, mas para mim era um grande negócio. Quero dizer, quem diabos anda com uma máscara de metal, qual é a história dele?

Eric Coleman veio com câmera e filmes e só encontrei ele um dia. Eu não me lembro se tivemos uma foto planejada ou se ele apareceu no dia certo. Doom e Madlib eram elusivos com fotos, por isso esta foi uma oportunidade. Nós os gravamos em nossa casa, onde o álbum estava sendo gravado.

Eu estava pensando na capa de “King Crimson’s In the Court of the Crimson King quando eu estava trabalhando nesta foto. Eu usei para verificar esse cara vermelho gritando no álbum de King Crimson na coleção do vinil do meu pai quando eu era uma pequena criança e ele realmente me sacudiu – Eu estava realmente assustado olhando através de seu vinil. Eu esperava que essa foto desse cara com uma máscara de metal fizesse o mesmo com algum outro garoto de 5 anos em algum lugar.

Outra coisa – apenas um pouco de brincadeira – foi que a foto em preto e branco [de Doom] me lembrou de alguma forma a primeira capa do álbum Madonna, apenas ela em preto e branco – ela disse “MADONNA” “O” era laranja. Eu vi as duas fotos lado a lado e ri como se fosse alguma versão rap de Beauty & the Beast. Então eu coloquei um pequeno pedaço de laranja no canto, em parte porque precisava de algo distintivo, e em parte para combinar com a cor de Madonna.

madonna

Descreva como era o ambiente de trabalho na Stones Throw na época. Vocês estavam todos vivendo juntos na mesma casa, certo?

Jeff Jank: Sim, estávamos todos nesta casa em East, Los Angeles, e eu ainda vivo lá hoje sozinho. [Peanut Butter] Wolf tinha este tipo de rótulo de DJ do quarto hip-hop que ele tinha começado alguns anos antes, e decidiu se mudar para L.A. para trabalhar mais perto com Madlib. Egon e eu nos juntamos ao mesmo tempo. Foram os três, sem planos e sem dinheiro. Madlib mudou-se para lá, primeiro montou uma loja na sala de estar, e depois entrou no abrigo anti-bombas da era dos anos 50, com paredes de concreto de 18 polegadas. É como se fosse feito sob encomenda para ele – ele fez música o dia todo em uma programação consistente que realmente me impressionou – e o mais impressionante eram  suas três pausas por dia, que eram para fumar gigantescos montes de maconha;

Nós todos apenas mergulhamos nisso como um projeto vivendo nele 24/7. Depois de fazer isso por um ano ou dois, um dia Madlib disse que gostaria de trabalhar com Doom. Egon conhecia um cara que sabia quem conhecia Doom, e a próxima coisa que você sabia que Doom também estava fazendo: “Fazer bongs no telhado na Costa Oeste”, como ele diz na primeira faixa que ele escreveu para o álbum. Eu realmente não percebi o que era um momento idílico, até que as coisas ficaram mais complicadas alguns anos depois.

O que você lembra sobre o processo de Madlib e Doom trabalhando juntos, e como eles moldaram suas próprias idéias de como apresentar a música?

Jeff Jank: A parte mais importante de seu processo é simplesmente que Doom entendeu Madlib. Ele entendeu de onde ele estava vindo com a música, como isso se relacionava com os discos que eles ouviram dos anos 60-90, e a inclinação de Madlib para trabalhar sozinho em privacidade. Doom era tudo para ele.

Eu freqüentemente buscava Doom em um hotel cada dia. Chegamos a uma loja de bebidas às 10h. Escrevia na varanda dos fundos, Madlib fazendo a coisa lá embaixo no abrigo de bombas. Eu não sei dizer se isso influenciou a obra de arte. Na maioria das vezes eu estava apenas preocupado com o álbum ficar terminado. Eu também tive essa confusão com Doom onde fizemos um comércio: eu fiz uma pintura em troca dele colocando algumas palavras-chave desafiadoras nas letras. Essas palavras permanecerão secretas, mas estou feliz em dizer que ele colocou para fora um par de meus personagens de desenho animado Hookie & Baba na faixa lounge “Bistro”.

Em algum lugar ao longo do caminho, a primeira demo “Madvillainy” vazou na web, e realmente azedou o processo para eles. O processo de levá-los de volta ao trabalho levou a maior parte de 2003, e as últimas partes do álbum foram muito mais difícil do que tudo. No final quase todo mundo estava frustrado, e eu acabei sendo o último cara no estúdio fazendo uma pequena edição aqui e ali, o que eu nunca tinha feito antes no Stones Throw. Eu dirigi para casa pensando, esta é uma ótima música, um grande beatmaker, um grande MC, e eu tenho um grito para os meus personagens de desenhos animados, a vida é muito boa.

Apesar disso, fiquei realmente surpreso com o amor que o álbum teve. Até hoje eu vejo novas pessoas descobrindo e sendo inspirado por esse disco e estou realmente feliz por ter feito parte dele. (Isso até torna o processo multi-ano do mítico segundo álbum algo suportável.)

Embora eu soubesse que Doom fez parte do KMD, eu não sabia até um pouco mais tarde que ele tinha desenhado a capa de Black Bastards ou tinha algo a ver com artes visuais. Conversamos mais sobre isso mais tarde, mas no momento tudo que eu sabia era que ele estava sendo absolutamente contra o uso de seu “rosto” na capa. Quando ele veio para ve-la um dia, seu cara Big Ben Klingon simplesmente estava com ele. Eu tive sorte. Doom gemeu quando viu a foto, mas Ben imediatamente percebeu. Ele estava uivando: “Olhe para esse cara, qual é a história dele ?! Isso é perfeito!” Ben agradeceu pela capa.

Sobre mulheres, cinema, futebol e as festas na ilha: A obra-prima do Jovem Maka.

Lembro do dia que a Dé (colaboradora do Rap Em Movimento) me mandou essa mixtape no inbox e disse: “Marco, escuta isso que acho que você vai gostar”.

Eu sou um pouco resistente para conhecer coisas novas, por causa do meu amor por tudo que é velho, porém a capa me chamou muita atenção: uma ilustração simples do que parece ser uma mulher, ou duas mulheres, entrelaçadas em suas partes íntimas. Dei play, e dali em diante esse álbum virou um grande novo amor nos meus fones.

Makalister é um MC de Santa Catarina, mais precisamente Florianópolis, que já lançou alguns trabalhos anteriormente, como o EP “Makalister Renton, que vocês podem conferir aqui e muitos outros singles lançados em seu canal no YouTub

Seu nome é uma homenagem ao jogador de futebol Mac Allister, que atuava pelo Boca Juniors, da Argentina; Como podemos notar aqui, e durante a análise de alguns sons do Maka, ele tem uma paixão muito grande por futebol, o que ele desenrola em suas músicas.

O cara, que  sem trampar desde agosto desse ano, decidiu usar esses 4 meses que restam de 2016 para dar vida as suas produções, como o mesmo afirmou em entrevista para a VICE.

Mas, tirando um pouco do foco sobre os trabalhos anteriores do MC e de sua vida, fiquei encantando pelo último trabalho lançado, que é o tema dessa resenha.

“Laura Miller Mixtape”, que dá nome à obra, é uma homenagem, como o mesmo sinalizou no lançamento do trampo no seu canal na internet. Uma homenagem a suas influências e toda sua rica bagagem cultural que permeia a mixtape. Aliás, esse é o primeiro lançamento de uma trilogia chamada “Sexo a Três”, que conta com mais dois lançamentos chamados “Camila Pitanga Mixtape” e “Fernanda Takai Mixtape”. Daí já podemos ter uma ideia do que vem pela frente.

“Laura Miller Mixtape” e´quase que totalmente baseado nas experiências do Maka a acerca do amor, sexo, e dos relacionamentos em geral. Claro que, durante as rimas, podemos ter uma ideia das reflexões do cara com relação a sua vida, sua visão de mundo, ideologias, bem como percepções sobre outros assuntos. Porém, o álbum tem uma carga enorme de rimas e histórias sobre o amor, e isso pode ser visto na própria capa do trabalho e em seu nome, inspirado na sexóloga do Programa Altas Horas.

O curioso sobre esse trabalho é que a maioria das rimas foram gravadas em um celular, dando um tom sujo e caseiro ao trabalho, o que, ao contrário do que se possa imaginar, não tira mérito a qualidade da mixtape, que foi mixada pelo Goss e Rodrigo Locaut, além das produções, que beiram o TRAP e beats experimentais, dos quais me chamaram muito a atenção pela qualidade, sendo alguns produzidos pelo próprio Maka e outros manos como Elifi, Victor Xamã e Arit.

A mixtape começa com “Punto G”, que faz um trocadilho com o Ponto G, e é uma música onde o Maka fala sobre uma garota que se relacionou e alguns de seus gostos e suas visões de mundo, Além disso, ele trás a sua percepção sobre o jogo do RAP e sobre seus desejos com relação ao seu futuro, como podemos ver no trecho:

E quando eu partir outro guerreiro nasce/Eu vou fazer valer os meus dias na terra/Bem sucedido, muito fino/Escrevendo livros, dirigindo filmes/Tatuar na costela “SPEED FREAKS”/Rodar o Brasil enquanto escrevem “disses”/Copiando o meu flow e o estilo dos beats”.

Além disso fica explicito o amor do cara pela arte, e sua influência pelo underground.

O trampo vai se desenrolando com sons como “Um homem que dorme”, uma das várias referências ao cinema cult, como ao filme de mesmo nome do som. Aliás, graças a esse trabalho, eu mesmo passei a me interessar mais por cinema e conhecer um pouco desse “lado b” da cena. Outro som que tem o título inspirado no cinema é “Pele que abandono, fazendo alusão ao filme espanhol “Pele que habito”.

Fica difícil falar de todas as músicas da mixtape detalhadamente, porém, dois sons me chamaram muito a atenção e por isso quero citar ambos nesse review.

O primeiro deles é “JovemBlvckFriday” que tem um dos beats mais cabulosos do trabalho pelo estilo atemporal e experimental do mesmo, sendo complicado até mesmo de dizer qual estilo do mesmo. E tem uma letra que mostra uma outra face do MC, talvez mais otimista e menos melancólica, ou menos nostálgica com relação ao amor, caso prefiram este termo. Se baseia nas “festas da ilha”, onde o mesmo reside, e serve de pano de fundo para muitos dos rolês do Maka, “onde as garotas bonitas se soltam”, como o mesmo diz na rima.

Outra música que me chamou a atenção foi “Faixa 08”. Em minha opinião é a faixa que bate o carimbo quanto a qualidade da sua lírica, a bagagem cultural que o MC incorpora em suas músicas e que mostra toda sua capacidade metafórica, marca registrada nas rimas e que me deixou apaixonado por esse trabalho.

Em versos como:“Mulher indômita/Fruta que caiu longe do pé/Longe do prédio” podemos ver o jogo de palavras, a exploração do mesmo com relação a palavras pouco usadas em rimas, e a metáfora entre “fruta que caiu longe do pé” e uma pessoa que o MC, segundo suas rimas, não teve com ele.

No resto da música, como nas demais da mixtape, podemos notar o uso de pano de fundo de situações banais, mas com uma riqueza enorme de detalhes, o que faz com o que o álbum se projetasse na mente de quem o ouve, se tornando quase que um clipe mental.

Um adendo é que, todas as demais músicas são muito fodas e trazem suas particularidades, mas todas elas envolto dessa temática, o que torna a mixtape bem fluída. sendo possível ouvi-la do começo ao fim, o que é muito agradável para quem tá curtindo o som.

Resumindo, “Laura Miller” é um álbum que trás boas e más lembranças para todos aqueles que já viveram histórias de amor, de sexo, mas que mexe com a cabeça e imaginação de quem está ouvindo. Makalister é um dos MCs mais líricos e talentosos da nova geração, e confesso que, esse foi um dos meus álbuns favoritos do ano. Fica evidente a facilidade do Maka em contar situações com detalhes que nos fazem imergir na história e no som, criando todas as situações ali apresentadas. E também não deixa de ser uma grande referência para quem é amante da sétima arte. É um trabalho que pode ser escutado junto do seu amor, da galera, mas que, quando sozinho, na madrugada, tem um sabor muito especial.

Vocês podem conferir a mixtape aqui e seguir o trabalho do Makalister em sua página no facebook facebook.