O Rap é compromisso não é viagem

Toda periferia chorou quando Mauro morreu!

Mais conhecido como Sabotage por sempre dar um jeito de burlar as leis, cantava desde que era pequeno. Como na canção do Chico Buarque “ele um dia me disse que chegava lá…Olha aí! Olha aí! Ai o meu guri, olha aí, o Mauro chegou lá…”

Nascido na antiga favela do Canão, no Brooklyn, zona sul de São Paulo, sofredor, com uma chance mínima de vencer na vida, seus amigos dizem que ele usou o rap para dar a volta por cima e acabou dando voz à periferia.

Ele nasceu no dia 3 de abril do ano de 1973. A vida nunca foi fácil, e quem disse que seria? Antes de conhecer o rap aquele “neguinho” da favela do Canão era apenas Mauro Mateus dos Santos.  Quando ainda pequeno ele se identificava com o cantor americano Barry White, pois assim como Barry, também havia perdido seu irmão para o crime. Seus amigos próximos contam que ele sempre andava com um caderninho para escrever música. As pessoas à sua volta diziam: “Meu,você é louco. Vai puxar uma carroça, pegar um papelão, jornal, levar um dinheiro pra casa…”.

Mauro seguiu os caminhos do crime antes de se envolver totalmente com a música. Durante sua adolescência já dava trabalho. Foi internado na antiga FEBEM (atual Fundação Casa). Foi assaltante e se tornou até gerente no tráfico. Em 1995 foi indiciado duas vezes, uma por porte ilegal de arma e a outra por tráfico de drogas.

Nos anos 88 e 89, começou a se inscrever em concursos de Rap. E foi em um deles que conheceu Mano Brown e o Ice Blue, rappers com quem, alguns anos depois iria formar o grupo Racionais Mc’s, que hoje é ícone no rap nacional. Com seu desempenho Sabotage, como ficou conhecido, levava músicas totalmente fora dos padrões do concurso e isso chamava a atenção das pessoas do setor. As músicas eram de sua própria autoria e contavam a realidade que ele havia vivido. “As letras eram carregadas de fé, compromisso, realidade e respeito”, conta uma fã do cantor.

O rapper que morreu no dia 24 de janeiro de 2003 teve apenas um disco gravado. “A favela perdia uma voz, perdia um poeta e ao mesmo tempo nascia uma lenda”, recorda um fã do Sabotage.

Além de deixar um grande legado para o Rap Nacional, Sabotage deixou um álbum! O trabalho que foi lançando apenas no final de 2016 já está em nossa lista dos melhores do ano! 

O Rap e o mundo precisa do Sabotage

É muito suspeito pra qualquer um que goste de Rap (du bom, tipo aqueles do Rappin Hood), falar do Sabotage e seu disco póstumo. Pois ele – infelizmente – faleceu ainda em um nível muito elevado de lírica, e das mais avançadas que já se viu, então era óbvio que esse disco seria foda.

A ideologia não morre.

Essa obra só mostra que o Sabotage foi o que aconteceu de melhor no Rap nacional, pois fez todo mundo lembrar que o que tem rolado de “inovador” na cena em tempos recentes, o maestro do Canão já fazia de forma muito mais avançada. Tanto o flow quanto a lírica, a visão de mundo… Tudo que a gente vê, hoje na cena (de bom), foi evoluído pelo Sabota. Por essas e outras que o cenário precisava dele hoje, pois só ele poderia dizer que os outros MC’s copiam seu flow, sendo assim, ele saberia como direcionar essa geração do Rap que só quer mostrar o tênis novo no Snapchat.

Os que apavora, apavorados serão na quebrada.

Ser malandro não é marcação jão, se joga!

Se na questão musical ele foi atemporal, no quesito social não seria diferente, o disco tem uma mensagem geral muito importante, com frases que são comuns dentro da poesia do Rap, mas a forma como o Sabotage construiu essas letras tem um impacto diferente e um entendimento mais específico.

Quem não pode errar sou eu, que se foda o Zé Povinho.

Vi e ouvi algumas pessoas dizendo que se esse disco, com letras de 13 anos atrás é atual, é porque nada no Brasil mudou, eu acredito que pensar dessa forma é desmerecer a obra, pois artistas geniais conseguem fazer composições atemporais que podem durar mais de 100 anos, e Sabotage é um desses artistas, suas músicas vão (e devem) continuar atuais, pois sua mensagem não pode ser esquecida jamais.

Obs: Mais um motivo pra entender o quão grande foi esse rapper:

Para ouvir o disco póstumo do Sabotage, é só clicar aqui ou aqui.