REM Indica: Favela Vive 3

Quando foi anunciado eu já fiquei bem ansioso pra escutar Favela Vive 3, também pudera, na época que a cena daqui começou a explorar (até cansar) as cyphers, essa série era das poucas que se salvavam sem nem fazer pose.

Quando eu escutei a parte 3 foi um alívio pelo fato de ver que o nível elevou mais ainda e não ficou repetitivo, mas também me fez pensar que o Rap por aqui precisa ser mais Favela Vive no que se diz respeito ao que se é passado ao público em conjunto com o momento que o país atravessa. Pode parecer papo de Guardinha do Rap, mas já faz um tempo que não se vê um alvoroço por vários lançamentos que alertam as manobras políticas, por exemplo.

Tão pedindo intervenção em pleno ano de eleição
Será que tu não entendeu como funciona isso até hoje:
O exército subindo pra matar dentro da favela
Mas a cocaína vem da fazenda dos Senadores

Em 2017 houve um movimento de querer saber qual seria o disco do ano, mas apontar o tal disco foi mais pela análise do jogo de palavras em junção com a produção do que analisar o que estava sendo dito.

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Isso é mais importante do que lançar o disco do ano. | Imagem: @geniusbrasil

Favela Vive 3 joga na cara do cenário atual que não precisa passar o tempo inteiro jogando indireta dentro do próprio Hip-Hop, em ano de eleições, paralisações e assassinatos de figuras relevantes o que mais tenho visto no discurso do público é passação de pano pra YouTuber e político, tem isso até nos comentários do vídeo dessa nova cypher, sim, acredite, tem. Acredito que essa confusão do público dentro do Hip-Hop se dá pela falta de um discurso mais condizente com o que acontece aos arredores do próprio.

Que isso, foi o tiro do blindado que acertou Marcos Vinicius
Caído ali sem árbrito de vídeo, e vocês quer sustentar o Hype
Comparar o melhor flow, viram três favela vive, não viu o quanto ela chorou

A cena se fechar para assuntos internos até certo ponto pode fazer as coisas evoluírem, mas chega uma hora que a mesma precisa se abrir e fazer os seus alertas, como o DK fez ao falar do congresso, Djonga ao falar do sistema carcerário e a Negra Li ao dizer que já se foram duas décadas e nada mudou.

Nos tempos mais recentes do Rap Nacional, tem sido mais comum ver músicas ao invés de discos marcando um novo momento para como vai caminhar o mesmo nos próximos meses, pelo sucesso da até então trilogia de Favela Vive, e pelos assuntos que vão ficar mais acalorados daqui pra frente, haja uma leva de músicas com discurso mais conciso em cima de questões mais amplas, mas seria mais relevante que isso fosse algo natural dentro da cena, falar de certos temas em cima da hora não ajuda a mudar os rumos nem dentro, e nem fora do Hip-Hop.

Só quem tava lá, naquele tempo
Sabe o jeito que foi feito, sofrimento que passamos
Vários manos, milianos, sem os panos
Mas atitude de respeito, daquele jeito

Escute sem moderação Favela Vive 3, e não deixe de escutar os dois antecessores.

Minas do Rap: 6 mulheres inspiradoras do Rap Nacional

Para mostrar a pluralidade de estilos e a força feminina dentro do rap, selecionamos para você, no Dia Internacional da Mulher,  6 brasileiras que arrebentam nas rimas. Dá uma olhada:

1. Dina Di

Considerada uma das mulheres mais respeitadas do rap nacional, Viviane Lopes Matias, mais conhecida como Dina Di, faz jus ao título. Sempre armada com rimas intensas, cheias de emoção e realidade, a MC faz muito “rap” parecer música de ninar.

Déborah Diniz rap dina di
A MC começou sua carreira no ano de 1989, foi vocalista do grupo Visão de Rua que emplacaram os clássicos “Amor e ódio”, “Marcas da Adolescência”, “A Noiva de Thock”, “Última Chance” e muitos outros.

Indicada a diversos prêmios e festivais brasileiros, com destaque ao Prêmio Hutúz, onde foi escolhida na categoria Melhores Grupos ou Artistas Solo Feminino da década.

Em 2010, após dar a luz a sua segunda filha, a MC teve uma infecção hospitalar e faleceu.

Passando por cima da pobreza, da ausência da família e do machismo, Dina Di não só conquistou o seu espaço no rap, mas abriu os caminhos para todas as mulheres que querem seguir no movimento.
2. Tássia Reis

Direito de Jacareí, São Paulo para o mundo, Tássia Reis!

Com discurso e estilo empoderado, a rapper traz nos seus sons grandes influências musicais como Jazz, R&B, MPB.

Em 2014 lançou o seu primeiro EP – que leva o seu nome –, apresentando os com os hits “No Seu Radinho”, “Meu Rapjazz” e a deliciosa “Good Trip”. Além das participações de e Tiago MAC, nas produções os Djs Skeeter, Poska, Kibão Beats e outros, a direção geral do EP ficou por conta do Diamantee. Pesadíssimo, né?

Déborah Diniz
3. Flora Matos

Aos 18 anos chegou a São Paulo disposta a viver de música e hoje aos 27 anos é considerada uns dos grandes nomes do rap nacional da atualidade.

flora matos canta pra chamar

A rapper brasiliense, Flora Matos emplacou grandes hits ao longo da sua carreira, como “Pretin”, “Esperar o Sol”, “Comofaz” e o mais novo single, lançado em 2015, “Canta pra Chamar” , som que vai compor o seu novo álbum que provavelmente será lançado ainda esse ano.

Pelas palavras de Mano Brown para o site Exame, Flora é uma das únicas que consegue misturar diversos gêneros musicais de forma natural, sem forçar a barra. A própria já comentou em algumas entrevistas que se identificou com o rap justamente por poder mesclar tudo que ela mais curte e transformar em algo único.

De ragga a MPB, de Brasília para o mundo.

4. Negra Li

Falar de Minas no Rap e não falar da Negra Li é até pecado, né?

Nascida e criada em São Paulo, Liliane de Carvalho, a talentosíssima Negra Li é ex-integrante de um dos maiores grupos do Rap Nacional, o RZO. Um das maiores cantoras não só do Rap, mas na música brasileira.

Déborah Diniz negra li

Com mais de 20 anos de carreira, a rapper conseguiu quebrar diversas barreiras e conquistou o seu espaço, levando a realidade da mulher negra que veio da periferia paulistana, que canta rap e diversos outros estilos musicais.

Na sua lista de parcerias, Negra Li já gravou com Dina Di, Nando Reis, Caetano Veloso, Charlie Brown Jr., Belo, Martinho da Vila, Gabriel o Pensador, Pitty, Skank, D’Black, Akon, NX Zero, Mano Brown, Sabotage, Marcelo D2 e muitos outros.

Ao transitar entre tanto estilos musicais em suas parcerias, a torna única.
Continue assim Negra Li que nós adoramos <3

5. Drik Barbosa

Dona de uma voz encantadora e de rimas pesadas, a jovem MC provou que veio para ficar.

Déborah Diniz

Com apenas três músicas lançadas na sua carreira solo – “Deixa eu te levar”, “Não é mais você” e “Pra eternizar“ -, Drik tem uma lista de parcerias que é evidente que sem a sua presença, faltaria algo em cada uma das músicas, além de tudo ela arrebenta do freestyle, deixando muito marmanjo no chinelo, confere aqui.

Não foi por acaso que ela lançou essa rima em “Mandume” – música em que fez parceria com Emicida no álbum “Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa” – “(…)Xinguei, quem diz que mina não pode ser sensei? Jinguei, sim sei, desde a Santa Cruz, playboys deixei em choque, tipo Racionais, “Hey Boy!”(…)”.

Entre os MCs com quem já cantou estão Marcello GuGu, Rivais, Flow Mc, Mc Bitrinho, Amiri, Slim Rimografia e outros.

6. BrisaFlow

Sem papas na língua, a MC mineira, BrisaFlow ganha destaque por discutir em suas letras temas como igualdade de gêneros, reflexões sobre os clichês apresentados em torno de raças, classes sociais e também de gêneros.

Déborah Diniz

Além do seu vasto conhecimento musical e cultural, por meio de estudos em conservatórios, escolas de música e participações em diversos grupos e projetos, segundo o site Dia de Música.

Foi indicada pelo site Think Olga em 2014, na categoria “Música”, como Mulher Inspiradora ao lado de Flora Matos e Ana Tijoux (presentes no post <3), também participou da trilha sonora do curta “Clandestinas“, dirigido por Fádhia Salomão – documentário que conta histórias de mulheres que abortaram ilegalmente no Brasil – e foi a primeira entrevistada da série “MULHERES MCs”, apresentado pela TV Carta (Web TV da Revista Carta Capital).

Ano passado, Brisa lançou o single “As de Cem” – que teve direção do Diamantee – já citando no post também – que faz parte do seu tão aguardado álbum “NEWEN”.