Pensa aí em quantos MC’s e grupos de Rap você gostava, ouviu o primeiro disco e achou foda, aí o segundo, terceiro, foi mais do mesmo e você simplesmente parou de ouvir. Tem vários né?
Eu tenho escutado bastante o segundo disco do Djonga, e me chamou a atenção em como a poesia dele ficou mais rica depois de Heresia, e como ele conseguiu mostrar para o público as mudanças na sua vivência (vida pessoal, carreira, jeito de ver o mundo), sem perder a essência na sua forma de fazer música.
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Acredito que nem todos que começam uma carreira dentro do Hip-Hop tem essa percepção, muitos tratam o sucesso de um primeiro trabalho como uma fórmula mágica para manter o mesmo, isso a longo prazo enfraquece carreiras e não mantém fiel o público, consequentemente, esses artistas não fortalecem a cultura da melhor forma.
A gente até presenciou por um tempo uma fórmula mágica, mas já tava ficando bem chato tudo aquilo, e ainda bem que Sulicídio veio e questionou tudo o que estava acontecendo.
Claro que o público tem a sua parcela de culpa, não falta fã que reclama quando algum MC coloca uma roupagem diferente no som, arrisca mais em outras formas de trabalho, eu vejo isso quase que como um desrespeito ao artista, pois seus trabalhos obviamente são para agradar o público, mas é algo pessoal também, cobrar os artistas por pararem de falar algo e começarem a dizer outra coisa atrapalha bastante, e também enfraquece a cultura a longo prazo. Claro que quando alguém começa a fazer um som zoado, a gente tem que cutucar, mas temos que aprender a direcionar melhor essas críticas.
Na entrevista do Rashid para o canal da Laboratório Fantasma, é dito que para o disco Crise, ele lançou todos os singles antes de lançar o disco de fato, dessa forma ele conseguiu mais sucesso do que em A Coragem da Luz, foi algo planejado para fidelizar mais o seu público e deu certo, o disco é bom, mas o anterior artisticamente (na minha opinião), é melhor. Via de mão dupla complicada de se trabalhar, pois os fâs tem dado menos atenção para um trabalho completo e bem montado para ficar mais focado em apenas alguns sons dos discos, e assim os MC`s precisam mudar sua forma de montar e lançar seus trabalhos. Pra sucesso é bom, mas artisticamente existe uma certa perda.
A impressão que fica é que os MC`s precisam antes de tentar trilhar algum caminho diferente depois de lançar seus primeiros trabalhos, se firmar e ficar um bom tempo fazendo sucesso. Um bom exemplo disso é o Emicida, o seu discurso nos sons mais atuais tem uma diferença perceptível dos mais antigos, e eu me lembro bem que ao lançar a mixtape Emicidio, choveram críticas a mudança na lírica e até mesmo na sua forma de trabalho. No trecho do vídeo abaixo a gente consegue entender melhor o motivo que o fez engrandecer sua poesia, se o cliente tivesse sempre razão, Emicida seria mais do mesmo e não seria símbolo de inovação no Hip-Hop, e hoje ele pode fazer o que quiser de diferente e não vai perder público.
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Os novos artistas precisam lutar mais pelos discursos (que podem mudar com o tempo), que eles tem em mente, as vezes, lançar na rua um trampo onde foi feito um bom esforço para que seja algo artístico é melhor a longo prazo do que querer sempre fazer hype. Babylon By Gus Vol. 1 não fez sucesso no seu ano de lançamento e hoje é um clássico quase que obrigatório na escuta de quem gosta de Rap.
Verdade, a cobrança do público pra cima do artista muitas vezes nem tem sentido, é só pelo prazer de criticar
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