O curioso caso da geração que consome rap pelo Youtube, mas não vai em shows

No último dia 9 de março o lendário grupo de rap norte americano Bone Thugs N’ Harmony fizeram  show no Espaço Barra Funda. Puta evento não? Apesar de não estar em sua formação completa o grupo carrega um peso enorme dentro do Hip Hop. São 25 fucking anos de história! Os caras cantaram com Tupac! Foram apadrinhados pelo Eazy E, isso já um bom motivo para você ir no show, não? Tá Mariana e o preço? Mano tava 40 golpes! E ai? Economiza quatro “litrão” e vai lá prestigiar os caras. Adivinha o que aconteceu? O evento deu aquela leve “flopada” e a agência começou a liberar vip! Beleza, todo mundo gosta de Vip, mas um evento desses?

Mas os caras são velhos e a nova geração não curte e blá blá blá! Então me fala qual foi o último evento de rap que você foi prestigiar e pagou entrada? Onde estão os seguidores da Pineapple que enchem de visualizações os vídeos do canal e dos react?

A expressividade da internet não condiz com as pessoas que frequentam os eventos de rap. Seja ele qual for! Eu sinto falta de festivais como o Afropunk aqui no Brasil, mas fico pensando se um evento desse porte iria “vingar”. Já tivemos muitos artistas que cancelaram shows no Brasil (em São Paulo), por falta de público. Vocês lembram do Method Man e RedMan? Isso porque eu estou falando só de São Paulo, nem mencionei a falta de eventos de rap em outros estados.

Um dos eventos na cena que sofre com essa incoerência são as batalhas de mc. O organizador e apresentador do Circuito Paulista de Batalhas de Mc (CPBMC), Mamutti 011, comentou sobre esse fenômeno dentro das batalhas “O público das batalhas é exponencialmente maior na internet porque grande parte dele é menor de idade e mal pode sair de casa. Quem dirá para ir a eventos de rua, muitas vezes longe de suas casas, que acabam após as 22h”, explica Mamuti.

O mc também fala como as batalhas na internet acabaram viram um entretenimento, pois acabaram se popularizando por meio dos vídeos e os espectadores acabam se identificando com a faixa etária dos participantes.

“É uma geração muito mais conectada e que usa a internet de forma muito mais visceral… E muitas vezes não dá tanto valor pra “vida real”. Infelizmente. Como tudo na vida o crescimento das batalhas na web tem seu lado bom e seu lado ruim”, conclui o mc.

Hoje, podemos falar, que o maior evento de rap nacional em questão de público é o Duelo Nacional de Mc’s que acontece em Belo Horizonte. O evento gratuito reuniu mais de 30 mil pessoas na edição de 2017.

Sem contar os eventos de graffiti e breaking que são pouco “explorados” pela galera do Hip Hop. Nesses eventos você encontra as pessoas do meio! Eu vejo muita gente comentando, dando discurso e fazendo textão na internet sobre a cultura Hip hop e que abomina os modinhas. E por aí vai. Fala mal do trap. Fala que o boom bap já ta ultrapassado. É que no sul “os caras não sabem fazer rap”. É criticando Raffa Moreira. Mas e ai, já colou em um evento de rap e pagou um preço justo? Ou foi sem reclamar do preço? Já foi em uma rinha de Mc para ver como é a dinâmica? Já saiu do conforto do seu lar para ver um evento de Graffiti ou evento de breaking?

Os caras são artistas e vivem disso. Hoje você vê os caras pechinchando cada vez mais entrada desses eventos. “Aaah mas tem que ter evento de graça também né? Esses lotam” Porra mano, fortalece tua cena! Paga pra ir em show. Vai andar pela tua cidade e valorizar os mc’s, djs, grafiteiros e bboys/bgirls da tua cena.

Não adianta chorar porque o Tyler, The Creator não vem para o Lollapalooza se a cena nem é tão forte assim. Somos fortes em streaming, mas ainda não abrimos a carteira para ir em um show de rap ou ver um evento de dj.

Voltando para a opinião do Mamutti a respeito da idade dos fãs de rap hoje, pode soar como alerta para as agências. Hora de mudar esse eventos. Nos anos 2000 a “nossa geração” era fã de Charlie Brown, Detonautas, CPM 22 e afins. Os shows aconteciam durante o dia. Eram festivais e a cena era muito forte. Hoje em dia o funk consegue se organizar com seu público menor de idade. Por que estamos enfrentando essa dificuldade no rap?  Não adianta sonhar com festivais de rap e não ir nem no showzinho na esquina. 

A nossa cena de rap tá só na internet? Vamos nos movimentar ai?!

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Foto: Marcola – Festa Punga

 

Autor: Mari Paulino

"Vim para sabotar seu raciocínio" Jornalista infectada pelo vírus do Rap desde cedo. Paulistana. Tenho uma vida corrida, que se divide em trabalho, amigos e projetos pessoais assim como esse IG @marivscapcom

6 comentários em “O curioso caso da geração que consome rap pelo Youtube, mas não vai em shows”

  1. Pohaaa manooo. Arrepiei tudo akii. Você falou só realidades que faltava ser notada, a maioria crítica, julga o movimento e em show de Sertanejo, paga uma cacetada de 80 pra cima, mais só vai porquê há muito excesso de pessoas que vai para ficar com mulheres que estão numa sofrência da poha e acha que liberar emoções por pessoas que já nem fazem partes de suas vidas vai aliviar a dor, mais tudo isso faz parte do paradigma ilusório. Agora sobre o Funk vcs já sabem, nem vou comentar, teve a época de Mc marcinho, Rap do Silva, entre outros que foram dispersões de emoções em que a mulher era totalmente grandiosa e valorizada, hoje em dia a galera vai pra role de funk só pra pegar uma novinha.(Realidade) Estão cravadas essa massa de manipulação em muitas músicas brasileiras como é visto hoje. Agora se for em um show de ‘ RAP ‘ só vai adquirir conhecimento puro e expressões de postura focada pelos propios artistas do Hip Hop ,com extremo compromisso pelo fardo!!! Rap é realidade atráves das palavras, Rap é espiritualidade, Rap é Alma viva com fé em ação!! É tipo nosso combustível para seguir em frente e evoluir cada vez mais!!! Rap salva vida Manoo!!! Vamo acordar pra realidade valorizar o que nos trás realmente evolução mental!!
    #SalveeCAMPÃO_MS
    #GrupoHipHop#FPS (Filosofia, política e Sociedade) https://www.facebook.com/fpscultura/
    ” Grato Pelo movimento visionário MARIPSOUZA “

  2. Massa irmão. É preciso fortalecer os que tão perto e se envolver nessa teia que é o hip hop [não apenas o rap]. Tem muita coisa boa que pode sair disso e geralmente os melhores momentos são em shows pequenos e nunca em grandes festivais.

    Abraço, parabéns pelo texto.

  3. Vamos la discordar em partes rs.

    Bone na Barra Funda nao “lotou” nao é porque os caraa vieram desfalcados ou outro motivo…Não lotou porque anunciaram primeiramente o show na quinta feira, no Tatuape, por um preço muito mais alto, alegando que nao era certeza o show de sexta feira.Esse show sim lotou, pois muitas pessoas como eu, se adiantaram e compraram para o show de quinta.
    Eu nao sei a capacidade do Arena Barra Funda, mas digo que estava com um publico consideravel sim! E a respeito dos Vips que foram distribuídos, o Fabrik junto com o Sympla, SEMPRE dão Vips, para TODOS os shows que organizam e no do Bone nao seria diferente !

    À respeito de colar ou nao em eventos, estou nessa caminhada cerca de 15 anos, aonde eu saia da Baixada para colar nos eventos em SP e ate em outros estados.
    O que acontece hoje em dia é que nao ha inovaçao dentro do Rap Nacional: formou-se uma “panela” aonde sempre sao os mesmos artistas nos mesmos shows, cantando as mesmas musicas ( isso quando vao todos do grupo, porque sempre falta alguem…)
    Ate nos eventos ” grandes”, sao sempre os mesmos grupos, as mesmas ” patifarias” de sempre ( falta de estrutura do local, atrasos nos shows, grupos que faltam e etc…)
    Isso vai cansando o povo que curtia e acompanhava a cena das antigas…
    A gente se sacrificava para curtir as ideias que ate hoje a gente segue..mas é claro que pra rapaziada que ta chegando agora é muito mais comodo curtir tudo pela net : nao gasta,nao pega chuva, nao mente pra mae…
    É uma nova parte do movimento que eles ganharam na bandeja..!

    Ps : EU CONTINUO INDO NOS ROLES DE RAP, em menos, MAS CONTINUO !

    1. Sobre o evento da Fabrik: Eu já trampei com eles e sei que eles liberam vips, mas já vi evento que tinha apenas 200 pagantes quando eram esperados 1mil, o resto foi de vip. O evento da Bone só lotou por causa desses vips. Essa é a minha critica! Não estou generalizando, apenas colocando situações. Além de frequentar os “rolês” eu já trabalhei por trás e sei como funciona. Temos sim uma panela no rap, mas ainda temos muuitos eventos diversificados. Vários shows gratuitos. Eventos de break e grafitti. Muito bom ver que ainda tem gente que sai de casa pra curtir o rolê, mas o texto foi pra essa nova geração mesmo, não para você que está no rolê!

      1. Eu fui uma que sai de Curitiba e colei no show. E paguei na entrada. Fui no show de quinta e de sexta-feira. Já colei e ainda colo em eventos de quebrada e sempre fortaleço os irmãos e irmãs. Tem muita gente ainda que faz isso.

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