O Rap e o mundo precisa do Sabotage

É muito suspeito pra qualquer um que goste de Rap (du bom, tipo aqueles do Rappin Hood), falar do Sabotage e seu disco póstumo. Pois ele – infelizmente – faleceu ainda em um nível muito elevado de lírica, e das mais avançadas que já se viu, então era óbvio que esse disco seria foda.

A ideologia não morre.

Essa obra só mostra que o Sabotage foi o que aconteceu de melhor no Rap nacional, pois fez todo mundo lembrar que o que tem rolado de “inovador” na cena em tempos recentes, o maestro do Canão já fazia de forma muito mais avançada. Tanto o flow quanto a lírica, a visão de mundo… Tudo que a gente vê, hoje na cena (de bom), foi evoluído pelo Sabota. Por essas e outras que o cenário precisava dele hoje, pois só ele poderia dizer que os outros MC’s copiam seu flow, sendo assim, ele saberia como direcionar essa geração do Rap que só quer mostrar o tênis novo no Snapchat.

Os que apavora, apavorados serão na quebrada.

Ser malandro não é marcação jão, se joga!

Se na questão musical ele foi atemporal, no quesito social não seria diferente, o disco tem uma mensagem geral muito importante, com frases que são comuns dentro da poesia do Rap, mas a forma como o Sabotage construiu essas letras tem um impacto diferente e um entendimento mais específico.

Quem não pode errar sou eu, que se foda o Zé Povinho.

Vi e ouvi algumas pessoas dizendo que se esse disco, com letras de 13 anos atrás é atual, é porque nada no Brasil mudou, eu acredito que pensar dessa forma é desmerecer a obra, pois artistas geniais conseguem fazer composições atemporais que podem durar mais de 100 anos, e Sabotage é um desses artistas, suas músicas vão (e devem) continuar atuais, pois sua mensagem não pode ser esquecida jamais.

Obs: Mais um motivo pra entender o quão grande foi esse rapper:

Para ouvir o disco póstumo do Sabotage, é só clicar aqui ou aqui.

Soco no ar?

Esses dias o cenário do Rap nacional levou uma chacoalhada daquelas bem necessárias. Verdade seja dita, os Ritmos e Poesias lançados “na rua” estavam começando a cair no clichê.
Estão chovendo lançamentos de sons que parecem bons, mas quando você escuta com mais atenção, são só rimas sem fundamento, e o pior, sempre sobre os mesmos assuntos. Ainda bem que alguém resolveu cutucar essa cena triste.

Mas aí entra aquela outra questão, se sobra MC por aí que se diz o melhor, o mais copiado e afins, porque não mostrar que merece tais títulos. Já que é tão simples lançar música nova a cada duas semanas, porque não deixar claro quem é quem?
E por essas e outras que o Rap acaba entrando numa via perigosa, naquele risco de ficar morno, na mesmice, onde ninguém aceita o desafio e as linhas perdem a profundidade, e quem gosta realmente de Ritmo e Poesia, precisa ficar meses pra ouvir um bom lançamento. Ou você acaba caindo na maldição do guardinha, daqueles que critica tudo que é novo, mas se nada que é novidade sai realmente com qualidade, fica bem difícil gostar.

Espero que as respostas venham, se for pra disputar nas rimas e com respeito, porque não? Quem ganha são os fãs da cultura, mas não aqueles que não sabem ler as entrelinhas, e sim quem pega no ar o que está nas 16 linhas.

Plástico

Texto inspirado na música Plástico, do rapper cearense Don L.

O menor ponteiro do relógio apontava para o oitavo número quando ela acordou. Levantando apressada pra se vestir, derrubou um copo cheio de líquido preto no chão, eu só tentava lembrar como aquilo tudo aconteceu.

A primeira lembrança que tive, era daquela mulher enxendo um copo de vodka como se fosse uma russa em pleno 9 de Maio. A partir daí consegui me lembrar (mais ou menos) do resto. Não foi a nossa primeira noite juntos, e nem foi a última, mas não conseguia enxergar previsão de quando fosse acontecer de novo. Então achei melhor deixar rolar.

A gente sempre liga um pro outro depois de uns anos longe, em uma noite sem muito o que fazer. É daí que ela pede pelo álcool e outra química, eu não me sinto bem em deixar acontecer esse tipo de coisa, mas negar depois da promessa de noite inteira de olho aberto e pulsação ao extremo, é quase impossível. Não faz bem pra nenhum dos dois, mas a primeira vez foi tão foda…

Fiquei nessa viagem matutina por uma hora, ela entra no banho e eu levanto, percebo a casa de cabeça pra baixo: a sandália dela dentro de uma embalagem de Doritos e logo ao lado, a garrafa vazia do meu Chacai, não me lembro de beber, mas me recordo do sabor dele na boca dela. Devia ser Depois das 3 quando tudo isso já tava no chão e ela na cama entregue como se o amanhã não existisse mais.

Mas o amanhã de ontem existe, e é nele que ela se despede com um “até logo”, sincero, pois ela sabe que a noite de ontem acabou, mas recicla e volta em outra.

Ouça a música Plástico.